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A igreja do século I no século XXI

03-11-2010 16:35

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Introdução

 

A igreja de Cristo tem atravessado os séculos com grandes vitórias. Essas vitórias da igreja se devem, em grande parte, a sua perseverança, unidade, comunhão e amor entre os seus membros. Isso precisa ser conservado pela igreja de hoje, e é disso que trataremos nesse artigo.

Mas será possível viver como a igreja primitiva vivia em pleno século XXI? Será possível ter o mesmo amor, o mesmo afeto, a mesma comunhão dos cristãos daquela época? Mas o que podemos viver hoje que os crentes da época viviam? Todas essas perguntas podem ser respondidas sem que tenham um caráter utópico.

Em um dos textos mais expressivos sobre a igreja daquela época, lemos: De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração (At 2.41-47).

Aqui nós temos a descrição da igreja após Pentecostes, uma igreja revestida de poder, unida e avivada. Vamos destacar algumas das características da igreja daquela época descritas no texto acima, e que devem ser características da igreja de nossa época também.

 

 

Eram perseverantes (At 2.42).

 

 

O termo perseverança tem os seguintes significados: Qualidade ou procedimento de perseverante; pertinácia, constância, firmeza. No grego temos o verboproskartereõ”, frequentar constantemente, continuar inflexivelmente, apegar-se a. A implicação desse verbo é a de constância, paciência e persistência.

Um mau que assola a igreja hoje em dia é exatamente a falta de perseverança de muitos cristãos. São aqueles que vivem de um lado para o outro buscando algo que eles mesmos nem sabem o que é realmente. “Pulam” de uma igreja para outra compulsivamente, e nunca encontram o que realmente buscam; esses, nunca estão satisfeitos com nada na igreja.

Paulo, advertindo os Gálatas a respeito da falta de perseverança deles, escreveu:Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho. (Gl 1.6). E no capitulo três, Paulo os chama de “insensatos”, cujo sentido da palavra é o de alguém que é “incapaz de tomar uma decisão correta”. (Gl 3.1). Ou seja, a maioria das decisões que essas tomam são decisões erradas.

As igrejas sofrem muito com a inconstância de muitos cristãos, e essa é uma das razões pela qual não pode haver um crescimento satisfatório delas.

Em três coisas principais perseveravam os cristãos primitivos, e é bom que as analisemos.

 

A)    Perseveravam na doutrina.

 

Entende-se por doutrina o ensino apostólico; eram os princípios que lhes serviam de base, e que eles, os apóstolos, ensinavam baseados nas instruções de Jesus. Devemos salientar que não havia nada escrito nos primeiros anos da igreja, e a transmissão desses princípios era feito oralmente. Mas mesmo assim, tudo o que era ensinado pelos apóstolos era praticado pela igreja.

A falta de firmeza na doutrina tem levado muitos cristãos para a derrota, e isso não é um mau desse século, pois como já dissemos acima, o Apóstolo Paulo já advertia os cristãos da Galácia sobre esse problema (Gl 1.6).

Nunca se viu tantos crentes se "movendo" de um lado para o outro como nesses dias. Uns estão buscando uma igreja melhor, outros estão descontentes com a doutrina da denominação ou da igreja aonde congregam, outros procuram uma igreja mais “liberal”. Aliás, o próprio apóstolo Paulo disse a Timóteo que nos últimos dias alguns não “sofreriam” a sã doutrinaPorque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos (2Tm 4.3). Infelizmente nós estamos vivendo esses dias.

 

B)    Perseveravam na comunhão. (At 2.42).

 

O termo comunhão tem um significado mais profundo para a igreja do que àquele que está expresso no dicionário de nossa Língua Portuguesa, onde ele significa: “Conjunto daqueles que comungam os mesmos ideais, crenças ou opiniões; comunidade”. No entanto, o grego do novo testamento trás koinonia” para o termo traduzido em português como comunhão. O significado de koinonia” no Novo Testamento é a de "dar uma partilha”. O termo origina-se da raiz koin”, que pode ser entendido como "partilhar de alguma ciosa com alguém”. Essa comunhão que havia entre os cristãos primitivos, expressava a unidade que havia entre eles, e essa disposição em partilhar que havia entre os mesmos era motivada pelo amor e pela compaixão para com os necessitados.

Em se tratando de partilhar (dividir em partes), a igreja de hoje às vezes deixa muito a desejar. Existe, não por parte de todos é claro, uma resistência quando se trata de partilhar algo com alguém, mesmo que seja algo simples e singelo. Claro, como já foi observado, que isso não se aplica a todos, pois ainda hoje é possível ver cristãos que vivem realmente a comunhão bíblica.

 

 

C)    Perseveravam no partir do pão (At 2.42).

 

Com certeza não está falando aqui de apenas fazer refeições juntos, mas também da ceia do Senhor. Acredito que quando Lucas escreveu isso, ele estava enfatizando a perseverança e a perfeita união que havia entres os crentes de sua época, e essa união perseverante era expressa até mesmo pelo simples ato de comerem juntos, tanto a Ceia do Senhor quanto uma refeição comum.

 

 

 D)   Perseveravam nas orações (At 2.42).

 

 

A oração fazia parte da devoção diária dos novos crentes; isso contribuiu de forma muito positiva para o crescimento da igreja de então. E entre outras coisas, a oração trás poder e avivamento para a igreja. O apóstolo Paulo aconselhava a igreja a orar em todo o tempo (Ef 6.18), pois a batalha contra as trevas não para nunca, e é impossível que uma igreja sobreviva espiritualmente sem oração.

A ênfase do texto de Atos 2.42, é a da oração em conjunto da igreja. E no próprio livro de Atos vemos que a oração em conjunto da igreja pode muito em seus efeitos. Veja que até mesmo antes do Pentecostes a igreja estava orando (At 1.14), ou seja, permaneciam buscando ao Senhor unanimemente. Qual foi o resultado disso? Deus batizou os crentes com o Espírito Santo (At 2.1SS). Em outra ocasião, Pedro estava na prisão e a igreja orou por ele, então Deus, respondendo a oração da igreja, mandou um anjo para livrá-lo (At 12.5). Esse é o poder de uma igreja que ora!

 

Havia temor entre eles (At 2.43).

 

O temor é requerido daqueles que servem a Deus. Temor não é medo, é sentimento de reverencia ou respeito ao Senhor.

Quero destacar três tipos de temor descritos na Bíblia:

1. O temor santo. Origina na apreensão do crente sobre o Deus Vivo. O homem natural é incapaz de sentir o temor santo, porem, Deus capacita o fiel a reverenciá-lo e a obedecê-lo.

2. O temor vil. Esse se origina como uma consequência do pecado (Gn3. 10). É sentido por aqueles que rejeitam a Cristo, para os quais só resta a expectativa do juízo (Ap 21.8).

3. O temor do homem. Esse tipo de temor fala do respeito e da consideração que se deve aos senhores, magistrados etc.

O temor que está descrito em Atos 2.43 é, sem dúvida, o temor santo. E a consequência desse temor era: “e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos”.

Muitos cristãos reclamam: Por que Deus não opera mais certas maravilhas em nossos cultos como antigamente? Ora, aqui está talvez a maior causa disso: a falta de temor de nossa parte.

Durante nossos cultos vemos pessoas andando o tempo todo, se “desligam” muitas vezes durante a mensagem, conversam sem parar quando não há necessidade. É claro que Deus não vai operar em meio a uma desordem dessas. Devemos pensar em corrigir isso.

 

 

“Eram unidos e tinham tudo em comum” (At 2.44).

 

 União é o ato ou efeito de unir (-se); Junção de duas coisas ou pessoas.. Reunião de forças, de vontades, etc.

Há um ditado que diz que “a união faz a força”. E é verdade, e ele se aplica perfeitamente a igreja, pois uma igreja unida é uma igreja de muita força, por isso, a igreja primitiva foi vitoriosa pelo senso de unidade que possuíam.

O que é unidade? Unidade é ter o mesmo desejo, o mesmo sentimento, o mesmo objetivo, a mesma vontade, a mesma força. É interessante que a igreja é uma instituição onde há unidade na diversidade (cf 1Co 12.12-31), e a igreja precisa dessa unidade para que ela tenha força e possa crescer saudável.

Mas a unidade da igreja deve ser em todos os aspectos. O principal, é claro, é no aspecto espiritual, mas há necessidade de nos unirmos materialmente às vezes também. Por exemplo, a construção de um templo, assistência social da igreja etc.

Sobre a unidade espiritual, diz Paulo: procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos”. (Ef 4.3-6). Aqui Paulo nos dá uma dica de como manter essa unidade: pelo vínculo da paz. Paz aqui fala de “relacionamento correto entre os membros do corpo de Cristo”. Então, um bom relacionamento promoverá, com certeza, a unidade na igreja.

E o que é ter tudo em comum? O termo comum (lt. Commune) quer dizer pertencente a todos ou a muitos. É aquilo que é habitual, normal, ordinário. Em Atos 2.45 é nos dada uma ideia do que era isso. Veja o texto: E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um”. Esse texto mostra claramente a atitude dos cristãos da época para tornar tudo comum entre eles. A Bíblia não está ensinando dar tudo o que possuímos para os outros, mas sim ser generosos para com nossos irmãos que passam por algum tipo de necessidade. (At 2.45).

 

 

 “Eram Unânimes” (At 2.46).

 

Unânime significa “aquilo que é do mesmo sentimento ou da mesma opinião que outrem”. Alguém perguntará: Será isso possível nos dias de hoje também? Não somente é possível como deve ser praticado nos dias de hoje.

É incrível como essas qualidades chamaram a atenção das pessoas da época em relação à igreja. Olhe o que diz o texto: Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos. (At 2.47). Se a igreja hodierna quiser ter vitória, atrair as pessoas e ter um crescimento satisfatório terá de se conformar a esse exemplo da igreja do século I.

O que estamos tratando aqui não é dos usos costumes que já foram tão discutidos pelas denominações, mas sim da esfera de amor e comunhão que deve permear na igreja de Cristo. Também não é de problemas supraculturais que estamos falando, ou seja, a cultura da época. Estamos falando de doutrina bíblica para a igreja de todos os tempos.

 

Havia singeleza de coração (At 2.46).

O termo singelo quer dizer simples, sincero; e isso também permeava na igreja da época. Em outras palavras, eles não tinham mágoas um dos outros, rancor ou maldade. Seus corações eram puros.

 Hoje em dia é muito comum as pessoas se reunirem na igreja com raiva, mágoas e desconfianças uma das outras... E isso tudo trás desconforto para dentro da casa do Senhor, culminando em desavenças, desunião e intrigas entre as pessoas.

É incrível como as pessoas andam “armadas” uma contra as outras. “Eu vou para a igreja hoje, mas se for o fulano de tal que for pregar ou cantar, eu fico do lado de fora”, diz alguns. “Se o sicrano estiver na fileira de banco que eu sento, eu nem no culto eu fico”, dizem outros.

Mas não devemos ser assim. Nós precisamos “desarmar” nossos corações e automaticamente nos livrar dessas “armas” do mal para que nossa relação com os outros membros do corpo de Cristo seja sempre saudável. Claro que concordamos que às vezes há algum tipo de atrito entre nós, pois somos uma diversidade de pensamentos. Mas nosso coração deve estar sempre pronto para perdoar e se humilhar quando necessário. Ou seja, é preciso que tenhamos um coração singelo que promova a paz e a unidade na igreja.

O apóstolo Paulo deixou escrito um texto que eu o considero o texto áureo contra esse tipo de atitude de muitos cristãos, e é bom que nos moldemos a ele. Observe:Pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes”. (Ef 6.12). Vamos nos armar sim, mas contra nossos inimigos espirituais.

 

 

Conclusão

 

É possível, como vimos nesses textos, viver uma igreja de acordo com a diretiva bíblica. Sim, uma igreja avivada, próspera, poderosa e consciente de sua missão, que é a de conquistar, integrar e manter as pessoas dentro do Reino de Deus.

Que possamos, com a ajuda do Espírito santo, praticar a perseverança, unidade, harmonia, generosidade e amor que havia na igreja do século I dentro da igreja do século XXI.

 

Deus abençoe a todos

Pb. Aparecido D. Camargo

 

Referências Bibliográficas

Alba, R. C.,Bíblia eletrônica 8.3, versão 2009.

Douglas, J. D., o novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Editora vida Nova

 

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